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Onde nasce a consciência?

Onde nasce a consciência?

2025-05-22

Onde nasce a consciência? Estudo inédito desafia teorias dominantes sobre o cérebro humano.

Uma investigação sugere que a consciência pode estar mais ligada às regiões posteriores do cérebro, responsáveis pelo processamento sensorial, do que às áreas frontais associadas à inteligência e tomada de decisões.

A consciência - essa sensação de estar presente, de ver, ouvir e sentir - é um dos maiores mistérios da ciência. Um estudo de sete anos com mais de 250 participantes vem lançar nova luz sobre a questão e desafia as duas principais teorias sobre onde e como ela se forma no cérebro.
 
A consciência está no centro da experiência humana. É aquilo que nos permite ver e ouvir, imaginar e sonhar, sentir prazer ou dor, medo ou amor. Mas onde, exatamente, se origina este fenómeno no cérebro? Esta é uma pergunta que há décadas intriga neurocientistas e clínicos.
 
Um novo estudo internacional, publicado na revista Nature, oferece novas pistas e desafia duas das teorias dominantes sobre o tema.
 
Durante sete anos, investigadores de 12 laboratórios nos Estados Unidos, Europa e China analisaram a atividade cerebral de 256 voluntários enquanto estes observavam imagens de rostos e objetos. Recolheram dados de diferentes tipos: atividade elétrica e magnética, fluxo sanguíneo e padrões de comunicação neuronal.
 
O objetivo era perceber quais as regiões do cérebro associadas à experiência consciente.
 
A consciência pode não estar onde se pensava
O estudo revelou que a consciência poderá não ter origem nas regiões frontais do cérebro - associadas à inteligência, raciocínio e tomada de decisões - mas sim nas zonas posteriores, responsáveis pelo processamento sensorial, como a visão e a audição.
 
"Os dados apontam claramente para o córtex posterior. Ou não encontrámos qualquer sinal de consciência na parte frontal do cérebro, ou os sinais eram muito mais fracos do que na parte posterior", explicou o neurocientista Christof Koch, do Instituto Allen, em Seattle, um dos autores do estudo.
Por outras palavras, a inteligência é sobre fazer, enquanto a consciência é sobre ser.
 
Duas teorias em confronto - e nenhuma sai vencedora
O estudo confrontou diretamente as duas principais teorias científicas sobre a origem da consciência:
 
Teoria do Espaço de Trabalho Neuronal Global (GNWT): defende que a consciência emerge nas regiões frontais do cérebro, onde a informação relevante é amplamente distribuída e acedida pelas outras áreas cerebrais.
 
Teoria da Informação Integrada (IIT): propõe que a consciência resulta da integração de informação entre várias partes do cérebro, formando uma rede unificada que gera a experiência consciente.
 
A equipa detetou ligação funcional entre as áreas visuais (posteriores) e as frontais, o que mostra como a perceção se relaciona com o pensamento. No entanto, nenhuma das teorias saiu claramente validada: não foram encontradas ligações duradouras suficientes na parte posterior do cérebro para sustentar a IIT, nem sinais consistentes na zona frontal para suportar a GNWT.
 
“Era evidente que nenhuma experiência isolada conseguiria refutar decisivamente uma teoria. Elas partem de pressupostos diferentes e os métodos atuais ainda são limitados para produzir uma conclusão inequívoca. Ainda assim, aprendemos muito sobre ambas as teorias - e sobre como e onde, no cérebro, a experiência visual pode ser descodificada", afirmou Anil Seth, especialista em neurociência da Universidade de Sussex.
 

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